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As Içás e a Gastronomia de Resistência no Vale do Paraíba

Quando criança, eu e meus amigos do bairro saíamos correndo atrás das içás logo após a primeira chuva. A gente ria, caçava as iças com a mão, colocava em latinhas de marmelada e torrava na fogueira na rua de terra. Era diversão, era curiosidade — e nem imaginávamos que por trás daquele costume havia uma tradição milenar, passada dos povos indígenas aos bandeirantes e tropeiros, atravessando gerações até chegar a nós. Anos depois, fui descobrir que paulista é, sim, comedor de formiga — com orgulho e com história.

Em 2010, durante o curso de Gastronomia, escolhemos como tema do nosso TCC a comida tradicional do Vale do Paraíba. E digo escolhemos porque essa viagem não foi solitária: fui até Silveiras acompanhado pelos colegas do grupo de trabalho, todos animados com a possibilidade de vivenciar, de perto, os sabores e saberes que resistem naquela região. Foi nessa busca que conhecemos o Sr. Ocílio Ferraz— figura lendária do Vale do Paraíba, respeitado por sua sabedoria com as formigas içás, ou tanajuras, como também são chamadas.

De fala mansa e um jeito calmo de caminhar, o Sr. Ocílio nos recebeu com simplicidade e generosidade. Nos levou ao campo, mostrou os sinais da natureza, explicou que não era só sair pegando as formigas: era preciso escutar a terra. “Ela avisa. Tem cheiro, tem sinal, tem o tempo certo”, ele dizia, com a autoridade de quem aprendeu tudo com o pai e o avô, e nunca leu isso em livro algum.

A coleta foi feita logo após a primeira chuva da primavera, quando o solo ainda estava úmido e as formigas aladas emergiam para o voo nupcial. Foram eram recolhidas com cuidado, colocadas em baldes com farinha de mandioca para soltarem as asas, e depois limpas manualmente. Iniciamos o preparo em panela de ferro, no fogão a lenha, com torra cuidadosa, que liberava um aroma entre o da castanha tostada e o aroma de acido fórmico que lentamente foi se dissipando. Acrescentado gordura de porco caipira e farinha de mandioca local, deixando a farofa de içás com um sabor intenso, amanteigado, terroso — diferente de tudo que se come em um restaurante comum.

Ali, na cozinha do Sr. Ocílio, entendi de verdade o que os cronistas já diziam no século XIX: paulista é comedor de formiga. Em São Paulo, especialmente no interior, as içás eram vendidas nas ruas, servidas em farofas e misturadas a angu. Monteiro Lobato as chamava de “caviar do Vale”. Era uma iguaria democrática — alimento de roça, mas também produto de desejo na cidade.

Aquele dia ficou marcado em todos nós. Voltamos para casa com os potes cheios de içás e a cabeça ainda mais cheia: de perguntas, de respeito e de vontade de preservar aquele saber. Entendi que comer içá não é exotismo. É prática ancestral, é nutrição sustentável, é identidade. É conexão com o tempo da terra e com a cultura de um Brasil que resiste — apesar da pressa, dos rótulos e do esquecimento.

Até hoje, quando sinto o cheiro da lenha, lembro das içás. E do Sr. Ocílio, que nos ensinou que, para cozinhar com verdade, é preciso primeiro saber ouvir o chão que a gente pisa.

Quanto ao TCC? Bem ai é outra história e que contarei em breve!

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Torrinha com Cheirinho de Pão Quentinho

Assim Foi Nosso Curso de Panificação Caseira!

Quem passou pelo nosso Curso de Processamento Caseiro de Pães em Torrinha-SP, sabe bem como foi especial. Durante os dias de curso, o cheirinho de pão quentinho tomou conta do ambiente, junto com muita conversa boa, aprendizado e troca de experiências.

O curso, realizado em parceria com o Sindicato Rural de Torrinha e o SENAR-SP, teve como principal objetivo levar mais autonomia e qualidade de vida para as famílias do meio rural. A ideia é simples e muito valiosa: aprender a preparar pães em casa, com segurança, cuidado e muito carinho, aproveitando os ingredientes disponíveis na propriedade e reforçando os saberes da nossa cultura.

Quem participou colocou, literalmente, a mão na massa. Aprendemos juntos desde a escolha dos ingredientes, os cuidados com a higiene na cozinha, até as etapas do preparo de diferentes tipos de pães — pão branco, pão integral, pão doce, pão de batata-doce e brioche (Pão de hamburguer, Sonhos, parisiense, etc) . Tudo de um jeito simples, prático e acessível.

Mais do que aprender receitas, o curso reforçou algo muito maior: o valor do alimento preparado em casa, feito com afeto e com atenção à saúde da família. É sobre isso — cuidar, valorizar e fortalecer a vida no campo.

Foi muito bonito ver a dedicação de cada participante, os sorrisos ao ver o pão crescendo no forno e, claro, aquele orgulho gostoso de quem aprende algo novo e leva para a vida.

Quero deixar aqui um agradecimento especial à coordenadora Renata Cassola, pelo carinho e pelo convite para estar mais uma vez no Sindicato Rural de Torrinha, compartilhando conhecimento, experiências e fortalecendo essa rede de aprendizado tão importante para as famílias do campo.

Fica aqui o nosso convite: acompanhe a programação de cursos do SENAR-SP. São atividades feitas para você, que vive no campo, e quer aprender mais, cuidar da sua família e fortalecer o dia a dia com mais saúde, conhecimento e autonomia.

Cozinha com Propósito: Capacitação para o Festival da Mandioca em Santa Maria da Serra

No dia 16 de junho, estive em Santa Maria da Serra para conduzir uma palestra especial voltada aos empreendedores da área gastronômica da cidade. A atividade foi realizada em parceria com a Prefeitura Municipal como parte da preparação para o 5º Festival Gastronômico da Mandioca — um evento que celebra sabores, histórias e tradições locais.

A capacitação teve duração de quatro horas e trouxe reflexões práticas sobre gastronomia como vetor de identidade, economia e hospitalidade. A mandioca, protagonista do festival, foi o ponto de partida para falarmos sobre inovação, sustentabilidade e a importância de transformar o prato em experiência.

Saberes que Alimentam

Falamos sobre como a mandioca representa mais do que um ingrediente: ela é símbolo da cozinha brasileira, carrega técnicas ancestrais e oferece versatilidade tanto em receitas tradicionais quanto em criações contemporâneas. A mandioca pode virar pão, bolinho, sobremesa, petisco de feira ou prato de alta gastronomia. Basta sensibilidade, respeito ao ingrediente e um olhar criativo.

Gastronomia como Produto Turístico

Outro ponto forte da palestra foi a visão da gastronomia como um produto turístico estratégico. Apresentamos dados, tendências e ideias para que os empreendedores criem experiências completas — do sabor à narrativa. Falamos sobre nomes criativos para pratos, uso de ingredientes locais, boas práticas de manipulação e apresentação visual.

Cada prato conta uma história. E contar essa história é o que transforma o trabalho de um cozinheiro ou cozinheira em uma ponte entre cultura, memória e desenvolvimento local.

Valorização Profissional e Boas Práticas

Abordamos também temas essenciais como segurança alimentar, montagem de pratos, cuidados sanitários em eventos e os principais pontos da RDC 216/2004 da Anvisa. Afinal, qualidade e segurança são pré-requisitos para qualquer experiência gastronômica marcante.

Foi uma manhã de trocas genuínas, escuta atenta e vontade coletiva de fazer bonito — não só no festival, mas em cada cozinha que representa Santa Maria da Serra.

Agradeço à Prefeitura de Santa Maria da Serra pela confiança e parceria, e parabenizo todos os participantes pelo engajamento e pela paixão com que empreendem e representam sua cidade através da comida.

Se você também acredita que cozinhar é mais do que alimentar — é criar memórias, servir cultura e transformar realidades — te convido a acompanhar o trabalho do The Cooking School. Estamos juntos na missão de valorizar os sabores do nosso território.

Gastronomia de Verdade: O Que Vi (e Provei) Como Jurado no 4º Festival Gastronômico da Mandioca

Sabe quando chega um convite que te enche de orgulho? Na noite de  13 de julho , tive a alegria de ser jurado no 4º Festival Gastronômico da Mandioca, realizado na cidade de Santa Maria da Serra – SP. O Evento teve a participação dos restaurante e chefs locais com o apoio da Prefeitura Municipal de Santa Maria da Serra.

Como chef e associado da FIC – Federazione Italiana Cuochi Brasil, representar a The Cooking School em um evento como esse foi mais do que uma honra: foi uma oportunidade de valorizar os ingredientes da nossa terra e reconhecer a força da cultura alimentar brasileira.

Mais do que uma competição culinária, o festival foi um verdadeiro encontro de saberes, sabores e histórias em torno da mandioca — um ingrediente símbolo da identidade alimentar do nosso país.

Tive a honra de dividir a bancada de jurados com duas mulheres inspiradoras: Cintia Tomie Suguino, turismóloga da Partiu Rural e instrutora de Turismo do Senar-SP, e Rose Vasselo, vice-prefeita de Santa Maria da Serra e grande entusiasta da cultura local. O olhar atento e sensível de cada uma tornou a experiência ainda mais rica.

Durante o evento, provamos receitas que iam do tradicional ao criativo, do comfort food ao ousado. Teve mandioca em pratos doces, salgados, massas, petiscos, bebidas e até em preparos que surpreenderam pela originalidade. 
Ser jurado é muito mais do que degustar. É escutar, observar, valorizar a técnica e, principalmente, entender a história por trás de cada receita. Muitas delas traziam memórias afetivas, referências culturais e um forte vínculo com o território. 

O festival reforçou algo em que acredito profundamente: a mandioca é um patrimônio vivo da nossa culinária. Um ingrediente versátil, afetivo, e cheio de possibilidades — que merece ser valorizado e explorado com respeito e criatividade.

Agradeço imensamente à organização pelo convite e pela confiança. Participar dessa edição foi uma experiência marcante, e mais uma prova de que a gastronomia é uma ponte poderosa entre tradição e inovação.

E se você ainda não participou de um festival como esse, fica aqui meu convite para o próximo Festival que ocorrerá em julho de 2025. Experimente, converse, descubra. A mandioca (e a cozinha brasileira como um todo) tem muito a nos ensinar.

Até a próxima!

Workshop Baunilhas do Cerrado

A gastronomia brasileira é rica e diversa, mas alguns ingredientes ainda são pouco explorados. No evento, ministrado pelo Chef Eduardo Graziano, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer e experimentar sabores autênticos do Cerrado, trazendo esses produtos para a culinária paulista de forma inovadora.

A Experiência no Workshop

O Workshop “Cerrado à Mesa” foi realizado a convite do Sindicato Rural de Luiz Antônio e Faesp Senar, por meio da coordenadora Cassiana Menegueti. Com duração de 6 horas, o workshop foi uma imersão na riqueza gastronômica do Cerrado. Além de aprender sobre o valor cultural e sustentável desses ingredientes, os participantes viram na prática como eles podem ser utilizados para criar pratos surpreendentes. O destaque da aula foi a preparação de uma Panna Cotta de Baunilha do Cerrado com Compota de Cajuzinho e Pé de Moleque de Castanha de Baru. A receita mostrou que é possível unir técnicas da confeitaria clássica com insumos tipicamente brasileiros, resultando em uma sobremesa equilibrada, aromática e cheia de identidade.

O Poder dos Ingredientes do Cerrado

O Cerrado é um bioma incrível e possui uma biodiversidade que vai muito além do que estamos acostumados a ver no dia a dia. Ingredientes como o cajuzinho, a baunilha do Cerrado e a castanha de baru têm um enorme potencial gastronômico, seja para doces ou pratos salgados. Utilizá-los na cozinha não é apenas uma forma de inovar, mas também de valorizar pequenos produtores e promover a sustentabilidade.

Receita: Panna Cotta de Baunilha do Cerrado com Compota de Cajuzinho e Pé de Moleque de Castanha de Baru

Compota de Cajuzinho do Cerrado

  1. Lave os cajuzinhos e retire as castanhas.
  2. Fure os cajuzinhos com um garfo e esprema bem para extrair o sumo. Reserve.
  3. Em uma panela, leve ao fogo o sumo dos cajus, os frutos inteiros, sementes de cardamomo, suco de limão, água e açúcar.
  4. Cozinhe em fogo baixo por 30 minutos, adicionando água conforme necessário para evitar que a mistura resseque. Reserve.

Panna Cotta

  1. Corte a vagem de baunilha do Cerrado e extraia as sementes.
  2. Em uma panela, aqueça o creme de leite com o açúcar, as sementes e a vagem de baunilha. Mexa até ferver.
  3. Hidrate a gelatina com água fria, dissolva e adicione ao creme quente. Misture até dissolver completamente.
  4. Despeje a mistura em taças e leve à geladeira por pelo menos 5 horas.

Pé de Moleque (Praliné) de Castanha de Baru

  1. Torre levemente as castanhas de baru e pique-as grosseiramente.
  2. Em uma panela, derreta o açúcar com água e limão até formar um caramelo dourado.
  3. Misture as castanhas, despeje sobre papel manteiga e deixe esfriar.
  4. Quebre em pedaços irregulares.

Montagem

  1. Com a panna cotta firme, cubra com uma porção de compota de cajuzinho.
  2. Finalize com pedaços do pé de moleque e um cajuzinho inteiro.
  3. Sirva gelado.
Se você nunca experimentou esses ingredientes, essa é a oportunidade perfeita para começar! Teste a receita, descubra novos sabores e faça parte desse movimento de valorização da culinária brasileira.

Workshop de Pasta Fresca no SR de Torrinha

Torrinha tem uma forte influência italiana, visível na cultura, nas tradições e, principalmente, na gastronomia. Recentemente, ministrei uma aula de cozinha italiana na cidade, em parceria com o Sindicato Rural de Torrinha e a Faesp/Senar. Ensinei a preparar pasta fresca e explorar os diferentes tipos de farinha. A pasta fresca é um dos maiores símbolos da culinária italiana. Prepará-la exige técnica e o uso correto dos ingredientes. Durante a aula, abordamos diferentes tipos de farinha e como cada uma influencia na textura da massa:
  • Massas com ovos: mais elásticas e saborosas, ideais para fettuccine, tagliatelle e ravioli.
  • Massas de sêmola: mais firmes, perfeitas para formatos como orecchiette e cavatelli.
  • Massas coloridas: feitas com espinafre, beterraba ou tinta de lula, criando um efeito visual e um sabor especial.
Foi gratificante ver os participantes colocarem a mão na massa, experimentando novas combinações e aprendendo técnicas tradicionais. A gastronomia é um elo entre culturas e gerações, e essa experiência deixou isso ainda mais claro.

A Fogazza de Torrinha: Um Clássico Local

Um dos destaques da culinária da cidade é a fogazza, uma massa frita recheada, geralmente com queijo e tomate, mas que também pode ter outros sabores. De origem italiana, esse prato se tornou um ícone local. A presença da fogazza em Torrinha mostra como a herança italiana se adaptou à região. Assim como a pasta fresca, esse prato carrega história e identidade. Ensinar sobre a cozinha italiana em uma cidade com raízes tão fortes nessa cultura foi uma experiência incrível. A troca de conhecimento e o entusiasmo dos participantes reforçam a importância de manter essas tradições vivas. Se você gosta de massas, experimente fazer sua própria pasta fresca. Com bons ingredientes e um pouco de dedicação, é possível criar pratos deliciosos e se conectar com essa tradição centenária.
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Workshop Além do Doce de Banana

A Banana no Vale do Ribeira: Tradição, Economia e Inovação

A banana, fruto originário do sudeste asiático, encontrou no Vale do Ribeira, em São Paulo, um dos ambientes mais favoráveis para o seu cultivo. Com clima úmido, solo fértil e tradição agrícola, a região se transformou em um dos principais polos produtores da fruta no Brasil, especialmente da variedade prata. Essa força produtiva não só movimenta a economia local como também garante o sustento de milhares de famílias, sendo uma das principais bases da agricultura familiar no território.

No entanto, como em toda atividade agrícola de grande escala, o excedente de produção e a rápida maturação da fruta ainda representam desafios para muitos produtores. Pensando nisso, fui convidado pelo Sindicato Rural do Vale do Ribeira em parceria com a Faesp Senar e Prefeitura Municipal de Sete Barras para participar da 19ª ExpoBanana em Sete Barras, de um workshop voltado a agricultores locais, com o objetivo de apresentar soluções práticas e sustentáveis para o aproveitamento da banana madura.

Durante o encontro, apresentei alternativas viáveis para transformar o excedente em produtos de maior valor agregado. Um dos temas centrais foi o xarope de banana, uma preparação simples e funcional, que pode ser usada como base para sucos, smoothies, molhos para sobremesas, recheios de bolos e até como adoçante natural em bebidas. Rico em sabor e nutrientes, o xarope é uma excelente forma de reaproveitar bananas muito maduras, que já não têm valor comercial in natura.

Outro destaque do workshop foi o vinagre de banana, um produto ainda pouco explorado, mas com enorme potencial. Além de seu uso culinário, o vinagre é valorizado por seus benefícios à saúde — ele auxilia na digestão, regula o pH do organismo, tem ação antioxidante e contribui no controle da glicemia. Do ponto de vista da conservação, o vinagre também é uma alternativa natural para preservar outros alimentos e aumentar a vida útil de preparações caseiras.

Essas iniciativas se somam a outros produtos manufaturados já comuns na região, como banana passa, doce de banana, chips, farinha de banana verde, conservas e até licores artesanais. Ao transformar o que antes era considerado descarte em novas possibilidades de renda, os produtores do Vale do Ribeira fortalecem não só sua autonomia, mas também a identidade de uma região que tem na banana muito mais do que um símbolo agrícola — tem uma fonte inesgotável de inovação e desenvolvimento sustentável.

Tatuí­ recebe de grupo para análise de inclusão no MIT

Três membros do grupo de análise dos MIT (Municípios de Interesse Turístico), da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, estiveram em Tatuí em julho. Eles realizaram visita técnica, conforme divulgado pela Prefeitura e pelo Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico no fim do mês passado.

Segundo o Executivo, assim que os profissionais finalizarem a análise dos dados turísticos da cidade, eles devem encaminhar “todo o material de volta para a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)”. Lá, os deputados votarão projeto de lei que pode classificar Tatuí como município de interesse turístico. Se a “candidatura” for aprovada, a cidade poderá receber verba anual de até R$ 600 mil exclusiva para investimento turístico.

Integraram a comitiva do Estado os turismólogos VanilsonFickert, Waldirene Ricanelo e Cleyde Dini. Eles percorreram alguns dos estabelecimentos que prestam serviços de alimentação e hospedagem e atrativos do município. 

Durante a vistoria, conheceram as instalações de um restaurante e de uma pizzaria. Nesta última, os turismólogos foram recebidos pelo proprietário e atual presidente do CMT (Conselho Municipal de Turismo), Wagner Eduardo Graziano.

Este último, apresentou o projeto “Selo de Qualidade Turística – edição 2016”. Trata-se de uma iniciativa destinada aos estabelecimentos que prestam atendimento diferenciado aos clientes.

“A equipe elogiou o nosso projeto, dizendo que se trata de algo pioneiro e inovador. Inclusive, disse que irá recomendar a outros municípios”, falou Graziano em nota enviada à imprensa. “Nossa cidade está cada dia mais ganhando espaço no cenário de turismo e, com isso, todo mundo prospera mais”, adicionou.

Ainda em Tatuí, a equipe visitou o MHPS (Museu Histórico “Paulo Setúbal”), considerado um “dos mais visitados do interior paulista”, de acordo com a Prefeitura. 

Também passaram por um hotel, e fizeram pausa para um almoço serviço em restaurante, no centro. O cardápio incluiu degustação de refrigerante fabricado na cidade.

À tarde, os turismólogos visitaram o Conservatório de Tatuí, mais um hotel e a Paróquia-Santuário Nossa Senhora da Conceição. Por último, visitaram uma fábrica de doces caseiros, experimentando o doce ABC, feito com abóbora, batata doce e cidra. 

O diretor do Departamento de Cultura, Jorge Rizek, enfatizou em nota que Tatuí “está muito perto de uma importante conquista”. Rizek afirmou que o turismo gera empregos e, com isso, movimenta a economia da cidade. “Somos uma grande potencia turística, basta contabilizar o público da Festa do Doce”, disse.

Em quatro anos de existência, o evento registrou a passagem de 240 mil pessoas.

Doces ABC’ são declarados por lei patrimônio da gastronomia local

Com grande satisfação, compartilho uma conquista significativa para a cultura e o turismo de Tatuí: os tradicionais doces ABC foram oficialmente reconhecidos como patrimônio cultural e imaterial da gastronomia tatuiana. A iniciativa, de minha autoria enquanto presidente do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), foi apresentada em reunião do conselho e aprovada por unanimidade pelos conselheiros.

A partir dessa aprovação, o COMTUR encaminhou a proposta ao Executivo Municipal. O projeto resultou na Lei nº 4.972, sancionada no dia 5 de junho pelo prefeito José Manoel Correa Coelho, o Manu, após aprovação unânime na Câmara de Vereadores.

A proposta nasce do reconhecimento do valor histórico, cultural e econômico dos doces ABC — elaborados com abóbora, batata-doce e cidra, ingredientes que dão nome à receita. A tradição remonta à década de 1950, quando a doceira Belarmina de Campos Oliveira iniciou a produção caseira desses doces, que rapidamente se tornaram símbolo da cidade.

Famílias como a de Antonio Rocha Lima Neto, fundador da tradicional doceria Pingo Doce, mantiveram viva essa tradição por décadas. Hoje, Tatuí produz cerca de três toneladas de doces por mês, sendo 800 kg apenas de ABC, e exporta para várias partes do Brasil e do mundo, incluindo Europa, Japão e Estados Unidos.

A aprovação da lei representa o reconhecimento de um patrimônio afetivo e identitário da nossa cidade. Fortalece também o título de “Terra dos Doces Caseiros”, do qual Tatuí se orgulha, além de reforçar o papel da Festa do Doce como evento de referência no calendário turístico paulista.

Com a sanção da lei, garantimos a valorização e a preservação de um saber-fazer passado de geração em geração, e que agora está oficialmente protegido. É um passo importante para que o turismo gastronômico continue crescendo com base em nossas raízes e tradições.

Eduardo Graziano
Presidente do COMTUR – Tatuí/SP
Autor da proposta de reconhecimento dos Doces ABC como patrimônio cultural

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Fui entrevistado pela revista italiana Pizza & Core!

Com muita alegria, compartilho que fui entrevistado pela revista Pizza & Core, uma das publicações mais respeitadas da Itália quando o assunto é pizza e panificação.

Na matéria, conto um pouco da minha trajetória como pizzaiolo, da paixão que tenho pela fermentação natural, da escolha criteriosa das farinhas e do meu trabalho em valorizar tanto as tradições italianas quanto os ingredientes brasileiros. Falei também sobre como a pizza se conecta com turismo, cultura e identidade — algo que levo muito a sério no meu dia a dia.

Ver meu nome numa revista como essa, que inspira profissionais do mundo todo, é motivo de orgulho e uma motivação extra para seguir estudando e compartilhando o que sei com quem também ama a arte da boa pizza.

👉 Clique aqui para ler a entrevista completa (em italiano)

Matéria em Português

Pizza no Brasil? Uma instituição em São Paulo

Nesta edição, a Pizza&core leva você ao distante, grandioso e fascinante Brasil, um país que, graças à grande emigração italiana, é um dos maiores consumidores de pizza. Considere que São Paulo foi decretada a cidade “mais italiana” do mundo, graças ao número exponencial de pizzarias, mais de 6.000. Nos acompanhando nessa jornada estará o protagonista da nossa última entrevista, Eduardo Graziano, da Pizzeria Graziano, nascido em São Paulo, mas neto de italianos.
Eduardo, por que você decidiu se tornar pizzaiolo e restaurateur?
“Como muitos outros italianos, eu também decidi manter as tradições culinárias e gastronômicas dos imigrantes do Bel Paese e da minha família. Minha avó (italiana) tinha uma trattoria na Toscana e meu pai herdou dela essa veia empreendedora, então, aos trinta anos, abriu a primeira pizzaria na cidade de Tatuí, na província de São Paulo. Aprendi a profissão de chef e restaurateur com meus pais, mas também tive a oportunidade de cursar a Faculdade de Gastronomia e fazer outros cursos. Agora, além de trabalhar e administrar meu próprio restaurante (restaurante-pizzaria), dou aulas de culinária italiana para chefs brasileiros e também sou sócio da Federação Italiana de Chefs.

O que você cozinha em seu restaurante?
Somos um restaurante típico que há quase 30 anos oferece pratos à base de massas frescas preparadas diariamente: petiscos, risotos, carnes, frutos do mar e, claro, nossas famosas pizzas.

Conte-me um pouco sobre a cidade de Tatuí, onde você trabalha.
Tatuí sempre foi ponto de passagem dos primeiros exploradores, os “Tropeiros” (pioneiros), que introduziram uma culinária muito rica e variada, fruto de suas viagens. Essa culinária não mudou com a chegada dos primeiros imigrantes europeus no final do século XIX. Pratos como Feijão Tropeiro (feijão, bacon e farinha de milho), Galinhada (sopa de milho com flores de abobrinha) e todos aqueles pratos à base de mandioca, milho e carne-seca ainda são preparados, servidos e apreciados. Tatuí é uma cidade onde a imigração italiana foi muito forte, assim como a espanhola e a portuguesa. Sendo uma cidade com quase 190 anos de história, a cultura alimentar trazida pelos imigrantes italianos passou por profundas mudanças. Produtos locais foram incorporados a muitos dos pratos, mas as técnicas mais comuns da culinária italiana não se perderam».

Na Itália, a comida é um ritual importante, todo italiano é um pouco chef e nós, italianos, seríamos capazes de discutir por horas sobre como preparar um prato. Em vez disso, no Brasil, o que a comida representa?
Dentro da comunidade italiana, essa característica é exatamente a mesma: também somos capazes de passar horas e horas discutindo sobre comida antes de chegar a um acordo. Com a elevação da riqueza no país e a chegada de chefs europeus ao comando dos grandes restaurantes, principalmente em São Paulo, o brasileiro também está aprendendo a cultura da culinária. Hoje, o brasileiro sabe que a diferença entre um prato bom e um aceitável está justamente na sua execução cuidadosa e com produtos de alta qualidade.

Como a pizza é vista no Brasil?
Uma instituição de São Paulo. Ao contrário da pizza italiana, a pizza no Brasil é preparada com diversos recheios e em maiores quantidades. A criatividade do paulistano fez com que o resto do país também conhecesse a pizza. Não é incomum encontrar mais de 100 tipos de pizza nos cardápios. Com a chegada dos produtos italianos, algumas pizzarias passaram a preparar a típica pizza napolitana. A minha pizzaria foi a primeira na província de São Paulo* (*a revista mencionou como sendo “na província de São Paulo”, mas o correto seria dizer interior do estado.) a oferecer a Margherita, como se come em Nápoles. Uma curiosidade: no Brasil, a pizza é consumida no jantar e, durante o dia, poucos bares servem pizza em fatias (e de baixa qualidade)».

Que conselho você daria a um italiano que deseja abrir um restaurante no Brasil?
«A burocracia no Brasil dificulta a abertura de novos negócios, há muitas leis e os impostos são muito altos. Mas é um mercado em rápida expansão, onde o empreendedor precisa ter um bom plano de negócios e conhecimento do mercado. Como já disse, os brasileiros querem produtos e serviços de alta qualidade e, em geral, estão cada vez mais buscando atender às necessidades dos turistas. Com boas informações, uma ótima ideia e muita vontade de trabalhar, um empreendedor italiano poderia investir no Brasil e ter sucesso».

02/08/2012